terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Bispo chileno cita bíblia para defender matança de animais abandonados

Via Anda

No extremo sul do Chile, a poucos quilômetros do Estreito de Magalhães, a fria e pacata cidade de Punta Arenas – capital da província de Magallanes, a menos povoada do país – não costumava ser manchete dos jornais, pelo menos até a imprensa chilena conhecer o bispo da região, dom Bernardo Bastres, e suas polêmicas (e cruéis) declarações.

Nesta quarta-feira (9), o religioso publicou um artigo no jornal regional Hoy Por Hoy, no qual condena a falta de atenção do Estado chileno para “a praga de cachorros de rua que infesta diversas cidades do país e especialmente a esquecida Punta Arenas”. O artigo foi motivado também por um incidente ocorrido no último sábado (5), na catedral da cidade, quando um idoso de 73 anos foi abordado por seis cachorros de rua após uma missa ministrada pelo próprio bispo.

No artigo, Bastres diz que, na Europa, algumas cidades têm autonomia para assassinar os cachorros que vivem nas ruas quando eles são um “incômodo” para a sociedade e ainda declarou que tal medida está justificada pela Bíblia. “Deus criou todas as coisas e as colocou à disposição do ser humano, esse é um princípio do Gênese, tudo está ao nosso serviço, e, portanto, também podemos nos desfazer problemas criados pela natureza”, afirmou.

Segundo a Secretaria Regional da Província de Magallanes, existem aproximadamente 12 mil cachorros vivendo nas ruas da capital Punta Arenas, número bastante superior à média entre as capitais provinciais chilenas, de 7,5 mil – excluindo Punta Arenas, a média das capitais diminuiria para 5,5 mil, segundo a Secretaria.

Outras polêmicas do bispo Bastres

Não é a primeira vez que as polêmicas opiniões do bispo Bastres se propagam por todo o Chile. Aliás, em sua primeira aparição no noticiário nacional, ele também usou a “praga dos cachorros de rua” como argumento.

Em 2008, quando o governo da então presidente Michelle Bachelet anunciou que sua política de saúde da mulher incluiria a distribuição da chamada “pílula do dia seguinte” nos hospitais e postos de saúde públicos, Bastres foi um dos porta-vozes da Igreja Católica na ofensiva religiosa para tentar reverter a medida.

Em artigo publicado na época pelo jornal El Mercurio, um dos mais importantes do país, Bastres comentou que “não cabe aos governos ditar normas que alterem as regras da vida humana e atentam contra o próprio ser humano”, e logo complementou dizendo que “é exagerada a prioridade que os políticos de esquerda (a ex-presidente Michelle Bachelet é socialista) dão à legalização desta e de outras políticas de controle de natalidade, enquanto não tomam nenhuma iniciativa em outros problemas como, por exemplo, o excesso de cachorros de rua que existe em algumas cidades”.

Outra controvérsia criada pelo bispo Bastres aconteceu às vésperas do esperado dia 21 de dezembro, quando o sacerdote participou de um programa da televisão regional de Magallanes, em um debate sobre a profecia maia. Na ocasião, Bastres afirmou que os fiéis católicos que acreditavam no apocalipse deveriam deixar seus bens materiais aos cuidados da Igreja Católica antes de esperar o fim do mundo.

Grupo animalista se opõe ao “chamado ao ódio” 

Maurício Serrano, coordenador nacional da Animal Libre, grupo que defende os direitos animais, afirmou à Cooperativa.cl que foi um “chamado ao ódio” a proposta do bispo de Punta Arenas, Bernardo Bastres, para “eliminar” os cachorros que vivem nas ruas que não sejam bem cuidados por seus tutores.

Serrano respondeu da seguinte forma às declarações do bispo: “Propor a eliminação é uma atitude pouco ética. É um chamado ao ódio aos animais. Não se justifica um chamado para assassinar cachorros. Não se pode resolver este problema através de assassinato”.

O ativista também questionou a qualificação de “coisas” por parte do bispo sobre os animais: “Ele impõe uma discriminação à espécie e os considera como coisas para nosso benefício, não como indivíduos que são iguais a nós. Ele os desvaloriza”.

Na opinião de Serrano, este chamado ao massacre dos cachorros “é inconsistente com o que a igreja deveria promover que é o direito à vida não somente dos animais humanos, mas também de todos os animais”.

“O problema é que não há uma política pública de guarda responsável de animais. Isso é que tem que ser promovido: a responsabilidade”, acrescentou.

Com informações do Opera Mundi

Nota da Redação da ANDA: Infelizmente, é sabido e constatado que virtudes como respeito, empatia, generosidade, compaixão, senso de justiça e inteireza de caráter não são atributos facilmente encontrados em líderes políticos ou religiosos. É o caso desse bispo, que defende a matança de seres inocentes – um ato de violência injustificável incentivado sob uma justificativa leviana, já que atribui à Bíblia a índole cruel da qual ele mesmo, um espírito frio e ignorante, é dotado. Devemos, portanto, todo o tempo, utilizar de nosso discernimento para impedir que pessoas como esse bispo – e tantos outros – estejam em posição de liderança e poder, influenciando as pessoas ainda de caráter vulnerável a prejudicar outros seres. O poder deve estar nas mãos de quem tem a capacidade de fazer o bem, de respeitar todos os seres e de praticar a não violência em toda sua amplitude – no plano discursivo e na vida concreta. Quem defende a vida merece atenção e poder, na medida em que é capaz de multiplicar a clareza de consciência e inspirar outros seres a promoverem o desenvolvimento do espírito humano, plantando no mundo, sobretudo, a virtude da compaixão; quem faz o contrário, no entanto, promovendo a morte, o sofrimento e a exploração de outros seres, merece padecer do que prega, e nada mais.

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