domingo, 13 de maio de 2012

Morrer assim ou assado. Que diferença faz?

Por  Aleluia Heringer - Via ANDA


Logo cedo, indo para o trabalho, ouço no rádio do carro mais uma daquelas notícias que compõem a rotina do trânsito dos grandes centros urbanos: um caminhão de “carga” se envolve em uma batida e tomba na Rodovia Anchieta – SP. Três pessoas ficam levemente feridas. Até esse ponto, a notícia nada difere de tantas outras, não fosse o detalhe de o caminhão está transportando uma “carga de porcos”.
O radialista descreveu a cena como algo bizarro e grotesco. Como o acidente aconteceu no início da madrugada, foi possível conter alguns porcos que conseguiram se reerguer e tentavam apavoradamente fugir daquela situação. Outros tantos ficaram caídos ou ainda, tontos, cambaleavam. Os animais, aproximadamente trinta, ficaram na rodovia até que outro veículo os removeu.
Obviamente, realizar essa “operação resgate” não foi tão simples assim. Vejamos. Laçar e reconduzir algumas dezenas de porcos pesados e apavorados, não é fácil. Quem pôde acessar a reportagem, disponível em http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/caminhao-carregado-com-porcos-tomba-na-anchieta-20120427.html, assistiu o motorista chutando os porcos e os animais sendo jogados de volta a uma carroceria. Machucados e atordoados, não importa, naquela hora os porcos deveriam estar em pé, convenientemente acondicionados para retomarem a “viagem”. Triste cena!
Comentando o ocorrido, no bate papo informal próprio das rádios, alguém despertou a costumeira compaixão: Coitados!  Eles sobreviveram? Pensei, então, comigo: que diferença faz morrer ali ou no abatedouro, horas mais tarde?
Outra bizarrice dessa história é o que informa Carl Honoré (2011:71): “dois séculos atrás, um porco levava, em média, cinco anos para alcançar 60 quilogramas; hoje, chega a mais de 100 quilogramas, passados apenas seis meses, e é abatido antes mesmo de perder a dentição de leite”.
Nestas condições melhor mesmo teria sido morrer naquele acidente, abreviando o cruel e estressante processo – confinamento, transporte e abate – até chegar aos  pratos, assépticos e apetitosos. O pior dessa inútil história é que eles não merecem e nós não precisamos.

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